Monogatari e sua narrativa pós-moderna

 

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Monogatari, como podemos descrever essa obra?

Um anime muito polarizante e da direção excêntrica do Tatsuia Oishi. Monogatari ainda é algo realmente muito diferente, vai desde a certa raiva por causa da pretensiosidade da obra ou dizer que ela não tem profundidade porque é só fanservice com harem “diferente” e um garoto que é mais doido que a obra em si.

O mundo de Monogatari começou a ser feita na novel de NisioIsin, e depois foi adaptada para anime, a novel tem um diferencial de ser escrita na ordem que o autor quer, que necessariamente não é a ordem cronológica da coisa, podemos chamar isso de obra “pós-moderna”. Mas o que seria uma obra pós-moderna?

É uma obra em que, dando uma resumida, está totalmente sobre o controle do autor, a realidade vira uma ferramenta e uma das características da obra pós-moderno é a ausência da distinção entre o natural e o real.

A destruição dessa diferença entre natural e real vem sendo movidas na sociedade durante o século XX, isso acaba por se tornar um pastiche, causando uma coisa que é referencia a algum acontecimento real que é referencia a outro acontecimento e isso acaba se formando um bolo de coisas, e é tanta coisa que acontece que a realidade se torna paradoxal, desconcertante.

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Nenhuma regra do nosso mundo se aplica lá a menos que o autor queira, a obra também é sempre relativizada.

Como isso se aplica a Monogatari? Bom, Nisio usa um mundo que mescla o Japão antigo com o Japão moderno em muitas escalas misturando várias coisas da cultura a industria sem tirar a essência dos dois, assim criando uma relação entre dois mundos.

Em Monogatari a própria natureza do cenário é esse conglomerado cultural de passado e futuro acontecendo ao mesmo tempo, como se o conceito de tempo fosse totalmente relativo e realmente não tivesse tanta importância assim, até mesmo os personagens como vampiros de mais de 300 anos que são lolis, isso leva a existência também de coisas como esquizofrenia narrativa, o conceito de história na pós-modernidade se enfraquece em meio a construção da objetividade , do que é real, se a realidade é imperceptível e em ultima estancia é relativa e portanto é impossível entender de fato o passado pois só podemos recorrer a percepções alheias que são atingidas pela subjetividade dos comunicadores por opiniões, por cultura.

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Nesse sentido, o jornal não comunica a verdade mas sim uma percepção especifica da realidade de modo de que ele é em ultima estancia cultura, isso leva na arte uma desconsideração da linearidade, se tudo que pode ser realmente perceptível ao presente, o tempo pode ser controlado a mando do autor porque o passado não existe na prática tudo é uma sequencia de presentes.

Em Monogatari a direção coloca coisas distorcidas na tela durante os acontecimentos e raramente percebemos a passagem de tempo a não ser pelo protagonista e os acontecimentos caóticos que trabalham em cima dessa atemporalidade psicológica que em si não é necessariamente esquizofrênica mas em certos momentos chega a esse estado.

Todos esses aspectos brilham muito no anime que pega essa atmosfera de desvinculação e transforma em algo que pode ser visto.

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O fanservice com uma montagem hype a introdução de fato do anime, tomam basicamente o mesmo tempo de tela como se ele tivesse se construindo como um produto industrial buscando lucro e consumo em massa mas também pudesse rir e brincar com isso, e esse uso da uma dimensão nova a primeira cena do anime, do texto discutindo e analisando a si mesmo, se criticando ao mesmo tempo em que também é um fanservice bem produzido e tem o seu efeito para o público alvo dele.

Uma boa parte de Monogatari são diálogos, as conversas nessa obra não parecem de modo algum como alguém conversaria na vida real assim, e as longas sequencias de associações lógicas, trocadilhos elaborados e discussões circulares são usados para o mais diverso fim desde o efeito de comédia até a explanação de um conceito que simplesmente não existe no nosso mundo, enquanto que os diálogos de Monogatari são muitas vezes tecnicamente expositivos, pseudo-intelectuais ou qualquer outra coisa que você achar a existência dele da uma atmosfera de que não faz diferença ver como algo funciona ou ouvir.

Já que a estrutura das conversas não tem como sentido serem simples e tão pouco similares a realidade, eles não são exatamente expositivos porque o dialogo funciona mais como uma paisagem do que como comunicação formal e também pra evitar que o anime fique monótomo ou repetitivo já que a maior parte dele você vê só pessoas paradas e trocando ideia. A direção emprega diversas coisas durante a conversa, closes rápidos que indicam perspectiva de personagem, quebra de linearidade temporal pra dispor a conversa de modo mais interessante (a esquizofrenia) e muitas vezes distorções visuais, isso não se restringe só aos diálogos, o mundo de Monogatari é extremamente vazio e pessoal. Não importa, não existem personagens além daqueles que serão utilizados na história porque eles simplesmente não tem motivo para existirem.

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Quando a representação do coletivo é necessária ela é representada literalmente, porque esse mundo não se prende a tentar ser uma réplica da realidade mas sim fazer a melhor representação visual possível das ideias que são adotadas por ele.

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A aplicação dessa ideia faz com que em diversos momentos por exemplo o anime adote estilos de direção alheios a sua mídia, no que o anime usa elementos estrangeiros mas se apropria deles dando a sua própria visão dessas técnicas se discutindo e analisando como um anime, como algo que nunca pode ser por mais que tente a realidade física, mas pode ser um universo verossímil nos próprios termos e próprias regras. O real pode até ser relativo, mas o autor é absoluto.

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